Na atualidade a bolsa é praticamente a extensão do corpo de uma mulher.
Fiel detentora de segredos e
intimidades, a bolsa reflete a personalidade de
sua dona, desde o interior, com suas organizações peculiares, até seu exterior,
que transmite um pouco daquilo que ela deseja aparentar.
Mas não foi sempre assim, houve épocas
em que as mulheres viviam muito bem sem elas.
Inacreditável não?
Então venha comigo nessa viajem pela
história de nossas inseparáveis companheiras.
Não é possível dizer exatamente quando surgiu a primeira bolsa, mas alguns registros históricos nos dão
a ideia de que seja tão antiga quanto à própria civilização. Nas
pirâmides do Egito há desenhos que mostram pessoas carregando pequenos sacos presos à cintura, amarrados com
cordões.
Bolsa do século V, servia para
carregar alimentos, levada amarrada a um galho ou bastão.
A bolsa nasceu da necessidade dos
antigos carregarem seus objetos indispensáveis as necessidades
da época, como moedas, remédios, leques, tabaco, escovas de cabelo,
relíquias, livros de oração e pedras preciosas.
E também foi na antiguidade que nasceu
a crença de que as bolsas femininas guardavam segredos, pois em
algumas tribos africanas, acreditava-se que a bolsa da feiticeira continha
poderes sobrenaturais que permitiam que ela entrasse em contato com as forças
superiores, e nenhum homem era capaz de abri-la, porque temia.
Até o fim da Idade Média, as bolsas
femininas e masculinas diferenciavam-se pelo tamanho e ornamentos. As
masculinas geralmente eram maiores e feitas de couro. Existiam também as
pochetes, pequenas e chatas, e os sacos que eram levados pendurados até os
joelhos.
E por muitos anos, as bolsas foram usadas
atadas à cintura de homens e mulheres e tinham o nome de Bolsos. Os Bolsos eram confeccionadas em diferentes
tipos de couro e adquiriram tal importância que eram deixados em testamento
para parentes e amigos usados igualmente por homens e mulheres. Com a
quantidade de objetos carregados pelas mulheres
em seus Bolsos, logo se tornou lógica a necessidade de aliviar o problema
estético criados pelas protuberâncias e saliências que desfiguravam a silhueta feminina.

Foi então, quando os vestidos passaram a apresentar um
contorno marcado na qual não havia lugar para bolsos carregados de objetos, uma
nova bolsa passou a ser usada: A retícule. As primeiras
foram desenvolvidas para transportar objetos de acordo com a classe social de
cada mulher, como lenços de mão, leques, cartas, cartões de visita. Desta
maneira tornaram-se indispensáveis na Inglaterra e consideradas “ridicules” (ridículas) na França. Mas com o progresso
do século XIX, o termo francês “ridicules” passou a ser
denominado “retícule”, termo este que foi usado tanto na França como na
Inglaterra a partir de 1912 para designar as bolsas da época.
É somente no século XIX que
surge o termo em inglês, handbag, para designar
bolsa de mão, e referia-se originalmente à bagagem de mão carregada por homens,
que serviu de inspiração para produção de novas bolsas. Estas
bolsas eram miniaturas das hoje conhecidas malas de viagem e vinham com
fechadura, chave e compartimento para a passagem.
No final do século XIX as
bolsas passaram a fazer parte somente do guarda-roupa feminino quando a
princesa Alexandra, uma das líderes de opinião da moda da época,
tornou popular o uso das chatelaines. Estas pequenas e delicadas
bolsas, criadas a partir de conceitos medievais, causaram um grande impacto na moda. Traziam a vantagem de deixar as mãos
das mulheres livres, visto que deveriam ser penduradas na cintura, por
correntes. Essas correntes produziam barulho que chamavam atenção por onde a
mulher passava. Esses objetos tornaram-se acessório de ostentação entre
as mulheres desse período pois o “bolso” que agora estava
para fora das roupas significava que ela poderia ir onde quisesse, sem estar na
presença de um homem, porque carregava consigo todas as suas posses. Tornou-se
o símbolo da mulher independente.
O século XX chega então com seus avanços
tecnológicos e com ele traz uma infinidade de novos materiais e possibilidades
para as bolsas que se tornaram um acessório indispensável ao mundo
fashion. Com novos e diferentes modelos surgindo à cada estação,
especialmente desenhadas para ocasiões especiais e, mesmo, para específicas
horas do dia eram produzidas com material à prova de água, perfeita para
os dias chuvosos, bolsas resistentes para a praia, delicadas para eventos
noturnos entre muitas outras.
No início de 1900, as mulheres começaram a ter uma participação mais ativa na vida
diária das famílias. Ainda que muitas das compras fossem entregues e pagas à
domicílio, começam a surgir grandes bolsas de couro, conhecidas como
“bolsas de compra”. A invenção do automóvel e a facilidade das viagens de trem
foram responsáveis pelo surgimento das bolsas de viagem. Feitas de couro, em
uma variação das bolsas de compras, estas eram feitas para acompanhar os
viajantes e não eram entregues aos carregadores.

Para o dia usava-se bolsa minúsculas, em forma de rede,
e podiam ser levadas nas mãos ou presas na cintura como um cinto. Geralmente a
bolsa era somente um acessório bonito, atraindo a atenção
para as mãos e os pulsos delicados, convidando a todos a imaginar o seu
conteúdo, sem nenhuma função prática. Carregar bolsas minúsculas
indicava que a mulher tinha empregados, qualquer objeto maior seria carregado
por uma empregada ou carregador .
Foi durante a primeira guerra que a emancipação feminina
foi impulsionada e a mulher não estava mais limitada a um estilo de vida, a
etiqueta feminina foi revista, sofrendo alterações. A bolsa, na época
com bastante brilho, servia principalmente para
guardar maquiagem como batom e esponja para pó de arroz, além de
indispensáveis balas de menta.
Com a revolução da moda na década de 20, as bolsas já não precisavam
combinar perfeitamente com os trajes, como era de praxe nos anos anteriores. Na
Época dominava a bolsa carteira, usadas sob o braço.
Já na década de 30, apesar da crise financeira gerada
pela Quebra da Bolsa de Nova York, foi um período de muita produção
artística e cultural. Passou-se a usar materiais mais baratos, como o
plástico, para fabricação de bolsas. As bolsas continuavam pequenas e com
fechos de metal. Perto do final dessa década começaram a ficar um
pouco maiores e diversificadas quanto aos materiais, eram usados
couros de crocodilo, jacaré, leão marinho entre outros. Devido à grande
preocupação com maquiagem e beleza, as bolsas dessa época ganharam
compartimentos para maquiagem, com espelho e porta batom.
 |
Adicionar legenda |
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Muitos
materiais sumiram do mercado e foi preciso usar de muita criatividade
para substituí-los. Em meio a toda agitação e transtornos provocados pela
guerra, a década de 40, instiga pela adversidade, sendo uma das mais
produtivas neste século.
As bolsas de couro eram raras e por isso mais desejadas do que nunca, muitas
foram confeccionadas em tecido. Durante esse período não se podia separar a
imagem da mulher dos acessórios artesanais, que faziam o charme de sua
aparência.
Apesar de algumas bolsas já serem confeccionadas com o revolucionário
zíper, houve uma restrição com relação ao seu uso e também com o fecho de
metal, surgindo assim outros materiais como a madeira.
A moda está nas imensas bolsas-cestos, fabricadas em pele de cobra, sobretudo a
píton, o fino do fino consistindo em prendê-las no cinto.
Eram também bastante comuns, bolsas do tipo alforje, de tecido. Em 1941,
surgem bolsas de madeira, lançadas por lelong, que ganharam popularidade e
invadiram as ruas.

A década de 50 trouxe importantes estilistas
como Louis Vuitton e Hermes e Chanel que foi uma das primeiras marcas
a criar uma bolsa elegante com alça a tiracolo (em 1955) para
permitir, segundo a própria marca, que as mulheres ficassem com as mãos livres.
E também nesse período que a marca Hermes lança a
famosa bolsa Kelly, que ganhou esse nome, em homenagem a princesa
Grace de Mônaco.
A moda da década de 50 era conservadora e elegante,
porém a bolsa é o acessório mais versátil da moda, existindo em todo tipo de
material, cor e tamanho.
Nessa década a mulher adota a linha casual, a televisão invade os lares e
passa a ditar regras. Bolsas em formato de caixa, as bolsas box,
tornaram-se comuns, bem como a bolsa bracelete. O bambu começa a ser usado para
fabricação de alças de bolsas. No Brasil, a moda era copiada da Europa e dos
Estados Unidos, e o centro de tudo era o Rio de Janeiro.
A bolsa de couro em matelassê com alças de corrente,
um clássico da moda, foi criada por Chanel em 1955. Essa bolsa foi
batizada de 2.55, porque foi idealizada em fevereiro de 1955. A
inspiração veio das corridas de cavalos .
Na década de 60 a moda está voltada para os jovens, que
adotam aparência mais simples e despojada. No início dessa década ainda eram
muito comuns as bolsas carteira, com padronagens e estampas, em couro ou
sintético. Bambu e acrílico também eram muito usados. As bolsas receberam
influências de movimentos artísticos como Pop Art estampas
geométricas e influência do movimento hippie, o Flower Power.
As bolsas a tiracolo começaram a ser bastante utilizadas
pelas aeromoças e popularizaram-se, tornando-se uma peça básica.
Nessa época, o zíper passa a ser amplamente usado no fechamento das bolsas.
Também nesse período algumas mulheres passaram a adotar o uso de pastas
executivas masculinas, que logo ganharam suas versões femininas.
Mais um ícone das bolsas de luxo foi lançada em meados
1965, a bolsa Jakie O. da Gucci.
Reza a lenda que depois que Jackie Onassis aparaceu com
a bolsa, que usava com frequência nos anos 60, as mulheres invadiram as lojas
Gucci procurando a dita. Também é conhecida como “bouvier”, nome de solteira da
ex-primeira dama dos Estados Unidos.
Outra estrela das bolsas nascida com nome de Express e rebatizada na
década de 1960 como Speedy da Louis Vuitton, era originalmente uma mala de
viagem. Com o passar do tempo, foi ganhando versões menores. Hoje, pode ser
encontrada em cinco tamanhos e em todos os couros e monogramas das coleções. A
mais vendida é a Speedy 25 que nasceu de uma encomenda feita pela atriz Audrey
Hepburn, em 1965.
Na década de 70, houve uma mistura muito grande de estilos,
sendo difícil definir uma única moda. Passou-se pelo movimento hippie,
new romantic, liberty, entre outros. Usou-se de tudo, e os estilos
variavam de estação para estação. O movimento hippie dos anos 60, com
seu vestuário ecologicamente consciente e anticonformista exerceu uma
influência indiscutível nos anos 70. Houve um grande revival na moda, buscando
inspiração no passado, contudo com uma cara nova. Uma destas correntes foi o New
Romantic, tendência que privilegiava as estampas florais, acabamentos em renda,
chapéus de palha e uma série de acessórios com ares românticos da década
de 1930. O estilo liberty (padronagens com mini flores)
adornados com bordados eram usados tanto nas roupas como nas
bolsas. As bolsas com armação de metal, e as de estilo envelope,
usadas na década de 30, voltaram a ser usadas. E as Mini
bolsas com longos cordões usadas na transversal do corpo, era um acessório
de moda para quem queria aparecer nas pistas de dança.
Na década de 80, conhecida como “os anos dos contrastes”,
trabalha-se com inspirações do passado e idéias nostálgicas. Existem várias
vertentes na moda e harmonia entre opostos como feminino x masculino,
simples e exagerado. É também a década das tribos urbanas.
As bolsas estilo sacola foram muito usadas, porque eram práticas para
as mulheres que estavam no mercado de trabalho. Também essas mulheres começam a
adotar o uso de pastas executivas. Porém bolsas e sapatos deveriam
estar coordenados. Mochilas de nylon entram em cena devido à febre de
frequentar academias. A pochete, levada na cintura também era bastante
utilizada.
Na década de 90, sofre influência do estilo minimalista, a
simplicidade levada ao extremo.
Para alegrar as coleções minimalistas, estilistas
lançaram mão das cores cítricas. As bolsas passam a ter também compartimentos
para atender as necessidades da mulher da época, como porta-celulares,
porta chaves e outros. As mulheres passam a investir mais em acessórios.
Nessa década nasce mais um novo clássico, Lady Dior, Uma
bolsa de princesa. Foi esse o presente que a então primeira-dama francesa
Bernadette Chirac queria dar a lady Di. Então, em 1995, ela comprou um
modelo lançado pela maison de Christian Dior. Não demorou nada para que
Diana fosse clicada com a sua nova bolsa, que, em janeiro do ano seguinte,
chegou às lojas batizada de Lady Dior.
Para muitas mulheres, a
bolsa é um estilo de vida, e não somente um acessório de moda.
A bolsa revelou-se um acessório importante para
valorizar o visual, por isso a necessidade de terem vários modelos em casa, além de carregarem
também valores sentimentais. Na moda são as pequenas coisas que
significam muito, um pequeno objeto como a bolsa pode carregar muitas histórias
sobre a vida, poder e religiosidade.
O que uma mulher põe na sua bolsa é muito
importante para ela, e faz com que se torne um objeto completamente pessoal, porque contém um segredo, e
esse segredo dá à mulher sensação de poder. Tradicionalmente, para
uma mulher, a bolsa leva os artefatos de que ela fará uso durante o dia, mas
leva também sua pequena fábrica de beleza, que é
muito importante na identidade de cada mulher.